No lago


O segundo longo sonho aconteceu na terceira noite.

Estávamos no pomar, no meio da tarde. O sol nos convidou para um banho na cachoeira. Acima das gramíneas verdes, os pés de Anantha levitavam! O gingado dela, a cintura fina coreografando danças que só eu via! Caminhava com extraordinária leveza. Ao chegarmos, meu contentamento era largo. Observei-a livrar-se da diminuta veste — que quase nada escondia. Pôs um biquíni azul cujos laços pareciam flutuar, decerto embalados pelo frescor da pele que afagavam; prendeu os longos cabelos, espreguiçou-se, levantando os braços bem alto como se os apontasse para o sol; e içou, com inocência, as nádegas. Num átimo, pegou-me pela mão e puxou-me para a água. Que felicidade! Nadamos toda a extensão do pequeno lago, indo e vindo, com o sol e o canto de anuns varando a quietude do tempo; araras e bem-te-vis inventavam estrepolias, alheios ao nado vigoroso dos corpos que, numa noite carregada de forças invisíveis, haveriam de conhecer o amor que perpassa as eras, mora em castelos medievais e habita os altos cumes das serras baianas: o amor que produz faíscas, destrói florestas e vegetações floridas, o amor que nasce nas estrelas e sabe dos mapas das constelações, do caminho para os antiuniversos e do segredo da pedra filosofal. Atrás dela todo o tempo, como um peixe-rei no encalço da sereia — escolhida entre setecentas outras, diante da multifária reunião de atributos da preferida —, eu estava pronto para o amor sem-fim. Quando chegamos numa ilhota, que, na verdade, era uma pedra enorme no meio do pequeno lago formado pela queda d’água da cachoeira, ela parou, exausta. Nos derradeiros ofegos, já aliviada das incomensuráveis braçadas, sondava, serena, ora o arco-íris, ora as gotas em aspersão, ora...

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